sexta-feira, 3 de abril de 2009

A Lagoa, a fuga e o quartel

As folhas secas se arrastam rua abaixo num movimento circular e gradualmente se dispersam aos pés de Dona Maria, que está, como de hábito, postada no cruzamento das ruas São José com Presidente Quaresma, no tradicional bairro de Lagoa Seca, Zona Leste de Natal.  Ela segura em uma mão a coleira presa ao cachorro, enquanto com aoutra sinaliza para as folhas qeu estacionam em seus pés numa vã tentativa de advertência.

São quase dez da noite, mas apesar disso alguns carros mantem o tráfego do cruzamento, que à luz do dia é caótico, mesmo com uma rotatória.

Sob a luz do sol, o bairro nada de tem especial: é parte integrande do fluxo de pessoas e veículos que rege um centro cosmopolito como Natal.  Mas à noite, não! À noite, Lagoa Seca é, a seu modo, rebelde: brada a prórpia independência (e Dona Maria é figura inexorável nesse precesso), e assume um ar provinciano. Vizinhos às calçadas.  Crianças na rua. Não fosse o coro desafinado dos motores dos veículos, Lagoa Seca seria uma fuga da metrópole, na metrópole.

Alguams pessoas descem a rua São José, sob a supervisão da velha senhora e seu guardião.  É um trabalho que ela faz há anos; tem de se certificar que os coadjuvantes daquela rotina entrem em cena na hora prevista.  Um personagem na hora errada indicará imediatamente algo errado.  Ela lança um último olhar às ruas, até onde alcança sua exausta visão. Franze o cenho para o horizonte verticalizado, sabe o fim de sua jurisdição.  Aspira o ar da noite úmida e começa lentamente a andar em direção oposta, para as calçadas onde os vizinhos conversam alegremente, na extensão da Rua Presidente Quaresma.

Outrora,  um magnífico jambeiro erguia-se bem próximo a esse cruzamento de ruas, em frente a uma casa de arquitetura antiga, mas ambos foram sucumbidos pela fome de concreto das grandes construturas.  O velhor pé de jambo não passa agora de uma lembrança; a casa, de ruínas.  Dona Maria deve praguejar todos os dias contra as pessoas que tornaram seu quartel uma algazarra.  Uma senhora de idade detesta celeuma, com razão.

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