quarta-feira, 18 de novembro de 2009

Passado limpo ou passado esquecido?

Vendo a onipresente Sargento Regina (onipresente porque tem uma visão global dos problemas responsabilizados, diz ela, ao governo) denunciar um descaso já comum - dificuldade no abastecimento para as viaturas da polícia - involuntariamente minhas associações de ideias traçaram uma teia e prenderam o discurso do vice-governador Iberê Ferreira na Sabatina Nominuto, na noite da última terça-feira (17), no auditório da Casa da Indústria.

"No meu governo, traficante vai para a cadeia", declarou o pessebista. Se ele for eleito e traficante realmente for para atrás das grades ponto para o provável governador.  Mas ele fala de governo próprio, foi enfático: "no meu governo".

Mas esse governo atual também não é parte integrante da bagagem política de Iberê? Sim, é. Contudo, a condição de vice o isenta dos problemas sociais, porque quando se evoca uma culpa - e alguém tem que ser penalizado - esse fado recai sobre o administrador.  Assim, teoricamente, à governadora caberia atribuir o peso desses problemas, e se não fosse uma campanha de imagem muito bem feita, ela entraria para a posteridade lembrada por acertos e titubeadas, mas apenas aqueles se perpetuarão no imaginário do eleitor.

Política é como poker: sua capacidade de blefe garante sua vitória.  Tanto mais saiba blefar, tanto maior é sua chance de vencer.  Também engendra distorções no discurso que se remete a ela, por isso tomem nota: blefar, aqui empregado, não se mistura à semântica da mentira. Aquele é orquestrado sobre um discurso coerente com a realidade.  O blefe é a descontrução de uma verdade dada para a arquitetura da que se quer; a mentira é a negação do que se vê. E ponto. Isso posto, continuemos.

"Tenho uma vida pública limpa. Fui deputado estadual, federal e, graças à Deus, nunca tive meu nome envolvido em nada de escândalos”, foi exatamente isso que Iberê Ferreira disse em determinado trecho da sabatina. Um passado político sem escândalos é louvável. Mas política - pelo menos cá pelas terras do pau-brasil - é aliança, troca, negócio - definição que o vice-governador rechaçou, mas sabemos que assim o é.

"O Tribunal de Contas do Estado (TCE), através da fiscalização do seu corpo técnico, detectou uma série de irregularidades patrocinadas por Iberê. Ele teria usado e abusado da máquina administrativa para reeleger-se à Camara Federal, contratando várias empresas de construção civil, a maioria sem qualquer qualificação profissional, mas ligadas a correligionários políticos do deputado [...]".

O trecho acima foi grafado sob autoria de Caio César na edição de 12/02/2001 do extinto Jornal de Natal.  Trazia uma séria de denúncias ao então deputado pelo PPB, e hoje vice-governador, Iberê Ferreira.  Destaca ainda que o político teria feito uso da Secretaria de Trabalho e Assistência Social em benefício próprio, bem como que foi alvo de CPI na AL para investigação da administração de R$ 53 milhões na privatização da Cosern.

No que isso hoje é relevante? Em nada.  Mas a denúncia é séria, e, se verdadeira, leva ao cadafalso o passado limpo de Iberê Ferreira.
Ainda durante a sabatina de ontem: "É a minha vez de ser governador [...] Me considero o candidato mais experiente e que pode atender às expectativas".  A declaração não entra no status de mentira - não cabe.  Há verdade no discurso.  Verdade em construção.

Um comentário:

Ariston Bruno disse...

Cada Rei com seu reinado, cada ladrão com seu furto... Iberê não é mais nem menos que os outros, ele é mais um que como sempre vislumbra o próprio umbigo como reinado...pena é saber que nós(povo) como sempre seremos feitos de bobos da corte neste reinado. Excelente texto Dinarte...