terça-feira, 19 de janeiro de 2010

Haiti: projeto de poder

A crise desencadeada pelo terromoto que devastou o Haiti não abalou apenas o território daquele país. Mesmo com o epicentro na América Central, o tremor de terra abalou as estruturas da geoplítica internacional e empurrou para mais perto do Itamaraty uma vaga permanente no Conselho de Segurança da ONU. Mas quem já detém o poder sabe que os avanços do Brasil significam que o seleto grupo responsável por zelar pela paz mundial tem de ceder parte de seu poderio para a nação emergente.

Nessa contenda, destaca-se visivelmente a ajuda humanitária que o mundo estendeu ao Haiti. Entretanto, os esforços do Brasil pela reconstrução do país mais pobre das Américas deixou em estado de atenção Washington e Paris. Cientes de que a força de paz da ONU no Haiti é liderada pelo Brasil, os EUA arquitetam um modo de sobrepor sua assistência ao restante da ajuda internacional, e, para mostrar parte desse poder, impediram que um avião francês pousasse no caótico aeroporto de Porto Príncipe.

A reação de Paris foi imediata. O governo francês que já entendera o significado do papel brasileiro no Haiti entrou em conflito com a Casa Branca e questionou a gestão do aeroporto de Porto Príncipe. O secretário de Estado de Cooperação da França, Alain Joyandet, ressaltou que "não é normal que um avião que transporta um hospital de campanha não possa aterrissar". Washington rebateu as críticas e disse que o fluxo de aeronaves tinha de ser reduzido.

O fato é que por detrás do discurso sincero de ajuda humanitária ao Haiti há projetos de poder. O Pentágono destina 30% de seu orçamento para projetos que são assinados sob a rubrica de "ajuda humanitária". Paradoxalmente, estender a mão a quem precisa traz em seu bojo o reconhecimento de liderança e mais poder. É exatamente essa antítese que o Planalto quer consagrar de vez em sua política externa.

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