sexta-feira, 13 de agosto de 2010

Seremos mesmo uma malta de idiotas?

Que semelhanças poderiam haver entre um ringue de luta e um debate político na TV? Dias atrás não haveria semelhança alguma, mas o episódio envolvendo um jorlalista e um candidato ao Senado Federal, ambos do Acre, em que aparecem protagonizando uma luta com direitos a murros e insultos traz à baila o uso da imprensa para patrocinar e defender interesses políticos.

Na infeliz ocasião, a contenda entre o jornalista Demóstenes Nascimento e o senadorável João Correia começou em virtude de um questionamento a respeito das políticas públicas de segurança que propunha para o Acre. Incomodado como se deu a pergunta, o candidato chamou o jornalista de lacaio e vendido.

A Federação Nacional dos Jornalistas partiu em repúdio à atitude do candidato e reverberou como covarde e agressiva a postura do entrevistado. No mínimo curiosa a eterna vigilância dos paladinos da imprensa, mesmo quando participam de refregas desiguais, representados por pesos-pesados chamados a enfrentar moscas ou galos.

Do episódio se extrai uma observação: por mais vendido ou lacaio que seja o entrevistador, o candidato-entrevistado não tem direito de partir para a agressão. Há modos mais sutis, como o que os candidatos José Serra (PSDB), Dilma Roussef (PT) e Marina Silva (PV) fazem.

Indagam o repórter a respeito de para qual veículo trabalham, evocando inconscientemente o argumento histórico de que política e imprensa mantêm, quando não uma relação promíscua, um pacto de retidão aspergido pela anuência do Poder Público em não intervir na apelação publicitária de determinados veículos em prol de um ou dois papangus políticos.

O presidenciável José Serra é de longe o mais traquina dessa estirpe. Contrariado com perguntas no Recife e depois em Minas Gerais simplesmente afirmou que não entendia a fala carregada de tanto sotaque.

O episódio mais estapafúrdio aconteceu quando o tucano se incomodou com o questionamento de um repórter e logo disparou: "De onde você é?" "Da Globo", respondeu Fábio Turci, ao que Serra suspirou um "Ah, então desculpe". O tucano não voa, mas sabe onde pisa.

Sabatinado 12 minutos pelo casal JN, William Bonner e Fátima Bernardes, os sorrisos mais radiosos do Brasil, Serra falou à vontade, ao contrário do que aconteceu a Dilma Roussef e Marina Silva. Houve até "perdão, candidato" de William Bonner, ao interromper a fala do tucano.

Ficou clara a intenção de desqualificar Dilma e Marina, em detrimento de José Serra, embora a Rede Globo negue com sentimento de (injusta) revolta ter favorecido o tucano.

Pelas próximas semanas, a exemplo da Globo, o Datafolha, cujo cliente exclusivo é a Folha de São Paulo, deve divulgar pesquisa mostrando a vantagem de Dilma sobre Serra. Na última ela mostrou empate, enquanto todos os institutos mostram o crescimento da petista. A intenção: correr ao encontro da opinião pública e não mais fazer passar por possível panorama político que até janeiro desse ano dava como certo que Serra sucederia Lula.

Por aqui a coisa se repete. Ouvi de um colega da Tribuna do Norte essa semana, durante o Motores do Desenvolvimento, que sabatinou os candidatos ao Governo do Estado, a seguinte afirmação: "Não me surpreenderia se o Novo Jornal fosse embora sem ouvir Iberê Ferreira, e apenas com a fala de Rosalba Ciarlini. No site da TN, a saber, todas as chamadas principais daquela manhã de segunda-feira (09) eram declaratórias do governador do estado. Façam as conexões.

Falta respeito a quem lê, a quem vê. Enxergam-nos como uma malta de idiotas. Mídia e política, tão intrínsecas que não consigo um desfecho para esse artigo imaginando como seria se ambas fossem menos promíscuas e mais sérias.

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